terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Um poema de Luís Augusto Cassas




Do livro Liturgia da Paixão - Opus da Compaixão:


Summa Dominical

Se eu fosse eterno
jamais buscaria o significado da vida
nem realizaria o milagre do amor,
esse sol queimando os campos da alma.
O prazer e a dor seriam eternos
e a vida a infinita repetição
de um tedioso existir banhado de eternidade.

Se eu fosse eterno
jamais retornaria ao paraíso.
Oh dias imperfeitos, mas belos!
Qual o interesse de ver Deus face-a-face?
Ah, perder-me-ia no redemoinho das noites
fechado no círculo da inócua vaidade.
Para que compreender o mistério da existência?
Não haveria razão para sonhar.

Mas como sou humano e o coração bate
curvo-me à foice dos dias
e o belo o bem a verdade e a justiça
são eternos em mim porque findo.
O meu brilho é mais-que-perfeito
porque cessa em mim a claridade.

E nisso consiste a minha alegria:
o sofrimento de sempre concluir-me
é que torna única a minha vida,
ainda que de concluso o tempo que disponho
eu realize a minha obra mais sonhada:
o sentido insubstituível dessa sinfonia
concluída mas inacabada.

3 comentários:

Ana Tapadas disse...

Obrigada por nos revelares este maravilhoso poeta. Eu nunca lera nada dele.
Bjs

Ana Lucia Franco disse...

Oi, Ana, para mim é uma alegria revelá-lo, estou muito feliz que tenhas gostado.

bjs.

Marcelino disse...

Cassas é um dos grandes noimes da nossa literatura. Muito oportuna a distinção que o oeta faz entre concluir e acabar, são limites semânticos interessantíssimos. Agora, vale a pena também conhecer o poeta Nauro Machado, dono de uma obra que muitos colocam ao lado da de Ferreira Gullar, como os mais importantes autores da literatura maranhense contemporânea.