sábado, 26 de janeiro de 2013

Sexton

                                                     (Anne Sexton)

Relutei em assistir à peça Sexton, inspirada na vida da poeta americana Anne Sexton. Se temos a obra da poeta, o que pode interessar a vida dela? No caso de Anne Sexton, poeta declaradamente confessional, vida e obra se misturam, o que não justifica a exploração de sua biografia. 

Por outro lado, a arte pode se mover também disso, de vidas que não cabem em seu próprio tempo e exalam e transbordam. Sexton é uma boa peça. Muito intensa. A vida de Anne Sexton foi intensa e rendeu um roteiro que coube em mais de duas horas de peça sem qualquer intervalo, que encerrou com a declamação apoteótica de um poema de Anne pela atriz que a interpretou, Jessica Costa, de Brasília. A atriz chorou, choramos todos, cúmplices da arte/vida de Anne Sexton. 

Quanta entrega a uma personagem pela  atriz, que nos trouxe uma Anne plangente. Uma criança que engatinhava em seus pântanos. Uma mulher atrevida que conheceu seus abismos. Uma poeta ousada. 

Parabéns também à Julianna Gandolfe e Helena Machado, brasilienses, que escreveram o roteiro, fiel à Anne Sexton. 

Não poderia faltar um poema, com ares saturninos, de Anne, em (tentativa de) tradução minha e da Aline Aimeé (extraído do livro The Complete Poems, Anne Sexton, Mariner Books) : 


The Fury of Sunsets

Something 
cold is in the air, 
an aura of ice 
and phlegm. 
All day I've built 
a lifetime and now 
the sun sinks to 
undo it. 
The horizon bleeds 
and sucks its thumb. 
The little red thumb 
goes out of sight. 
And I wonder about 
this lifetime with myself, 
this dream I'm living. 
I could eat the sky 
like an apple 
but I'd rather 
ask the first star: 
why am I here? 
why do I live in this house? 
who's responsible? 
eh?

........                                                   

A fúria dos pores-do-sol

Algo
frio está no ar,
uma aura de gelo
e apatia
Todos os dias construí 
um tempo meu e agora
o sol afunda-se para 
o desfazer.
O horizonte sangra
e chupa o seu polegar
o pequeno polegar vermelho
desaparece.
E eu me interrogo sobre 
este tempo comigo,
este sonho que vivencio.
E podia comer o céu                                                    
como uma maçã
mas prefiro
perguntar à primeira estrela:
porque estou aqui?
porque vivo nesta casa?
quem é o responsável?
heim?

Nenhum comentário: