sábado, 1 de dezembro de 2012

Paras as mulheres que se dizem bruxas

                                    (The magic circle - John William Watherhouse)


A tempos tenho vontade de escrever para mulheres que se dizem bruxas. Algumas delas leem o que eu escrevo e isso chamou a minha atenção. Gostaria de esclarecer o que penso sobre isso de ser bruxa. E quando escrevo, não raro, caminho por um campo de “insights”. 

Minha ideia inicial não é abordar idade média, nem fascinação pelo demônio. Se bem que toda bruxa que se preze tem seu “demônio” particular. Isso não é agradável. Não acredito quando alguém me diz: “sou uma bruxa do bem”. Paradoxal. Decida-se. É uma bruxa ou é do bem. Criaturinha dócil, envolta em panelas e canelas, que se diz bruxa do bem. Desconfiem. Para se dizer bruxa, de certo sabe de seu demônio particular. Quando não é casada (ou juntada) com ele. 

A dependência e a fascinação de mulheres por homens é um quadro que só muda de feição, mas se repete no decorrer da história feminina. Daí se pode concluir que, no pano de fundo do feminino, há forte o arquétipo da “bruxa medieval” e compreendê-lo pode ser interessante.

Com vistas a uma nuance diversa da fascinação pelo demônio particular, pretendo abordar a bruxaria sob o ponto de vista da emancipação feminina. Ando mergulhada nesse tema nos últimos tempos. Tenho lido vários e ótimos livros sobre o assunto. 

A meu ver, a bruxaria não pode ser nada além de uma espécie de religiosidade com enfoque no feminino. Pessoas, não necessariamente mulheres, que questionam a adoração a um deus “Pai” e que recorrem a uma deusa mãe. A wicca é uma das expressões da bruxaria mais populares atualmente e que recorre a uma deusa mãe, pré-cristã.

Como se fosse fácil apagar os séculos de história da humanidade e iniciar a adoração a uma deusa paleolítica, como se de lá para cá nada tivesse acontecido. Bem ou mal, estamos na era científica, ou pelo menos pretendemos, o homem passou pelo cristianismo, pela idade média, pelo iluminismo e hoje vive latente um pretenso cientificismo. E parece que está na moda ser ateu. Significa que se transcendeu as questões existenciais que levam alguém a buscar uma religião e se vive da razão e do pensamento. A lucidez existencial, enfim. Embora a razão, no atual estágio de desenvolvimento da humanidade, ainda seja incapaz de elucidar os mistérios da natureza. Para onde vamos, de onde viemos. O que significa residir num planeta do tamanho de um pozinho de areia no contexto de um universo até então insondável. Começar a pensar sobre isso, sobre nós, humanidade, incrustados na superfície desse pozinho de areia é chegar pelo menos a desconfiar que há uma inteligência que nos transcende. Parece natural, e não metafísico. Se é uma inteligência feminina ou masculina, nem desconfio. Feminina e masculina, talvez.

O que de interessante há no movimento da bruxaria não é aquela parafernália de rituais, iniciações, ritos e nomes exóticos relativos aos sabaths da roda do ano do calendário Celta. Aliás, desconheço terminantemente aqueles nomes todos e toda a confusão em torno de equinócios e solstícios nos hemisférios norte e sul, dada a total irrelevância disso, pelo menos a meu ver. A propósito, para quem quer viver um paganismo, mesmo, lembro que a cosmogonia e cosmologia de algumas nações indígenas brasileiras são interessantes, e porque não conhecê-las e até vivenciá-las. Adorar o deus sol e a deusa lua, como fazem os tupis-guaranis, pode ser uma boa opção para os neopagãos. Não é porque se conhece os nomes exóticos dos sabaths Celta que se é bruxa. 

A bruxa, no contexto atual, não pode vir ser separada do resgate do poder feminino.
Esse é o ponto mais importante. E o resgate passa pela assimilação e compreensão dos arquétipos e dos mitos que construíram o feminino no decorrer de séculos de história de nossa civilização. De outra forma, tal poder não seria possível. O poder a que me refiro é o de conquistar o livre-arbítrio, a razão, que pode se agasalhar ao feminino, diversamente do que nos fizeram crer no decorrer de nossa história. Para ser mulher, não se deve ser burra e submissa. Isso não significa ser feminina. E ninguém precisa se transformar nisso para ser amada ou conquistar o seu consorte. Se precisar, estamos muito distantes do amor, evidente. Afinal, as bruxas medievais não existem mais. As que iam para a fogueira por causa de supostos pactos com o demônio por quem eram fascinadas e a quem eram subservientes. Se elas ainda existem no coração e na mente de alguém, já passou a hora de irem para a fogueira.

A bruxa atual é poderosa, sim, e ama corretamente, com inteligência e liberdade. Não é boazinha nem mázinha. É justa e honesta com sua própria existência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc acredita que existe bruxas? e se existe como sabe que nao e mentira ?