terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Henriqueta







A poeta mineira Henriqueta Lisboa (1900-1985)  foi o o oposto de Anne Sexton. Henriqueta era intelectual e gostava de recolhimento. Gosto mais de Henriqueta do que de Sexton.

De vez em quando, se quer mesmo um regato, um afago, uma poesia capaz de abençoar.  

Um pouco de Henriqueta: 


Entre o Céu e a Terra (do livro Obras Completas, I, poesia geral, da editora Duas Cidades, uma relíquia que achei por aí):


Entre o céu e a terra
que fina que forte
que estranha cadeia.

Tal matiz violáceo
determina a origem
de uma sombra fria.
Ponta a ponta o espaço
prefigura o teto
de um pássaro incerto.

É delícia o gomo
da fruta pendente
no aéreo suspiro.
Faz-se o tronco firme
que ao solo se prende
pelo puro sonho.

A montanha abrupta
dia a dia pesa
no âmago do vale.
Noite longa a lua
descobre no trevo
coração e lágrima.

Contínuo destelo
do corpo para a alma.
Viagem de retorno
da alma para o corpo.

Entre o céu e a terra
que inapta rebelde
tecedura de ouro.

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