segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Que modismo é esse?!

Ao procurar um presente para dar ao filho de uma amiga no aniversário dele de um ano,  verifiquei que a tal moda caveira chegou até às roupinhas para crianças. Estou estarrecida. Apelidei de moda macabra. A primeira vez que vi uma roupa com caveiras e ossos estampados, pensei fosse um caso isolado: onde já se viu?

Estava enganada. Parece que qualquer tendência de moda, agora, tem lá seus pés na cova. E não é coisa de outono. Difundiu-se nas demais estações e aparece ainda em vigor. Há por aí quiosques de moda caveira: desde mochilas de colégio a canecas e bottons. Todos mortalmente estampados.

A primeira vez que me ofereceram uma blusa com estampa de caveira fiquei horrorizada. Porque você me ofereceu isso, querida? Perguntei à vendedora. Porque estão usando muito, ela me respondeu.

Está aí um argumento que jamais me convenceria.

Sei que daí em diante vejo sempre caveiras estampadas em camisetas, calças, etc. Outro dia vi um broche esculpido em formato caveira, utilizado por uma coleguinha de minha filha. De osso, imaginem. Não se incomoda em usar isso, querida? Claro que não, tia. Adolescentes gostam de nos chamar assim.

Pode-se atribuir a difusão do modismo à força da propaganda, da mídia. Deve ter aparecido em alguma novela, porque basta isto para que uma moda se alastre. Adolescentes, cronológicos ou não, gostam de tribos, de usarem o que os outros estão usando. Ainda bem que minha filha nunca quis uma blusa com estampa caveira. Ela também não gosta. Somos ilhas, Bia, entre os que aderiram às caveiras. Não fazemos questão alguma de pertencer a esta tribo. Também não gostamos da tal moda “oncinha e zebrinha”, apesar de termos lá nossas estampas animais. Temos preferido flores e rendas.

Não compreendo comprarem para um filho pequeno algo da moda caveira. Não é porque se achou o objeto bonitinho. Ou é, há gosto para tudo. Por outro lado, pode ser que não estejam raciocinando direito e, onde há uma caveira, talvez vejam flores ou abelhas. Onde há sóis, mentes perturbadas veem caveiras, e onde há flores raciocinam dejetos. Assim a criança pequena é tacitamente obrigada a aderir a um modismo sombrio que pode nem ter a ver com sua essência.

Recentemente vi as caveiras e os ossos estampados em brinquedos, sapatinhos e blusinhas para crianças bem pequenas. Finalmente perguntei à vendedora o porquê de tais estampas. Ela me respondeu que a moda caveira tem um significado: nos lembrar de que somos todos iguais. Ah. Fiquei sem palavras.

Uma criança pequena precisa ser lembrada disso? Se a trajetória da criança humana, em parte, é até esquecer um pouco disso para se realizar. Lembrar-se de que é uma caveira só depois de um certo percurso de esquecimento. Antes, não.

A justificativa da vendedora não convence. As caveiras que aparecem estampadas não são iguais. Há caveiras brilhosas ou opacas. Há caveiras douradas e prateadas. Se fossem para nos lembrar de que somos todos iguais, apareceriam todas as estampas como nos raios-x.

Para as crianças, se estampem símbolos que representem a vida. Sóis e campos verdejantes nas camisetas infantis, e não caveiras. Símbolos sombrios podem abrir catacumbas. Ou não podem. Melhor não arriscar.

Não há o que justifique a moda caveira, a não ser um afluente mórbido que podemos escolher não navegar.

Para o Iago, filho da minha amiga, não dei nem aqueles bonecos tétricos que aparecem em lojas de brinquedos. Dei um livro de poemas infantis do Olavo Bilac para quando ele aprender a ler. Não foi fácil de encontrar. Cheguei a pensar que fosse impossível encontrar um livro de poemas infantis. Mas encontrei.

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