domingo, 13 de outubro de 2013

Uma viagem Canibal



O Marcelo Henrique, autor do blog Impostura, enviou-me seu livro O Poeta, O Canibal e O Espelho, com uma carinhosa dedicatória que me desejava boas reflexões. E me preparei para refletir no decorrer do livro. Mas lê-lo foi uma vivência. Senti-me acompanhando o Marcelo numa aventura, ou numa expedição arqueológica no melhor estilo "Indiana Jones", pelos meandros da mente. Pegamos uma embarcação chamada linguagem e com ela percorremos encostas, afluentes,  vales, picos da mente.  Exploramos desde a terceira camada mental (na subdivisão do Marcelo) que seria a do espelho ou da prosa, até a primeira, a da poesia em estado de latência.  Passamos pela segunda camada, a do Canibal, que seria um espaço intermediário entre o pensamento prosaico e o poético, onde máscaras começam a cair para o desvelamento ou a revelação/meditação poética.

Marcelo dá dicas para encontrar fósseis íntimos no incerto e multifacetado território poético; e salve-se quem puder. Isso, numa época em que muita gente quer mesmo algum porto seguro, alguém para chamar de "seu" ou "sua", algum novo messias ou uma camisa de força evolutiva. Nesse contexto, a iniciativa do Marcelo é necessária. 

Ah, e o livro é para ser lido com marcador de textos porque é pleno de boas sacadas. Compartilharei algumas:


"Não há mais reza porque a verdadeira religião se encontra na poesia". Pág. 17
"O Poeta remenda a linguagem, entregando ao cotidiano sua verdadeira face". Pág. 18.
"A única liberdade possível reside na poesia". Pág. 19.
"O poeta é um clandestino. Viaja sem documento, abandonou a segurança do prosaico e sabe que navegar é preciso". Pág. 36.
"O mundo é um convite para o poeta, que escreve extensos enredos sorrateiros a partir de um detalhe que passaria em branco por um olhar prosaico, encharcado de ilusões objetivas". Pág. 41. 
"O pensamento-poeta é o contato da mente com as profundezas mais recônditas da existência. O vazio sobre os trilhos, curvas sob o fermento do imaginário" Pág. 59.
"O mergulho poético exercita o esvaziamento e sua brisa é porosa, como passos no deserto". Pág. 90.
"Quando o pensamento cruza as margens da primeira camada, as palavras perdem o chão e ficam sujeitas a um único e derradeiro destino: o mergulho no inusitado absoluto". Pág. 106. 

Bacana, Marcelo, valeu!


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