domingo, 3 de novembro de 2013

Naked cake


Cheguei em casa ainda pouco pronta para tirar fotos do naked cake que fiz ontem, para postá-las no blog e no flick. Fiz dois, o outro bolo levei para o meu afilhado. O que ficou em casa deve ter sido abduzido por alguma trupe adolescente extraterrestre. Não restou migalha. Lavaram o prato, pelo menos isso. Naked cake, “bolo pelado”, sem cobertura, última tendência gastronômica/doceira. 

Gosto de fazer bolos desde criança. Naquela época, fazer bolo era quase um ritual. Tudo tinha que ser bem medido, bem pesado, nada de fazer no olho. Havia mil truques para o bolo sair bom. Não abrir o forno durante o período em que o bolo assava era um deles. Erro irremissível de qualquer boleira. Hoje desmistifiquei muita coisa. E, sim, abro o forno durante o período em que o bolo assa e ele não sola. Grande constatação. Nem sempre o bolo sola por causa disso. Há bolos em que não há qualquer receita, basta colocar  ingredientes no liquidificador, bater e pronto. Inclusive  fermento. Antes, não se podia bater o fermento para que ele fizesse efeito devido. Foi uma das primeiras regras boleiras que aprendi, “não bata o fermento, misture delicadamente”. Hoje, em algumas receitas, podem ir todos os ingredientes para o liquidificador, também fermento. Há bolo que não leva fermento, nem trigo e fica ótimo. 

Ah, fiz bem menos bolos do que gostaria no decorrer da vida. Outras atividades me envolveram. Mas sempre que faço bolos é como se nunca tivesse deixado de fazê-los. Parece que foi ontem quando eu vivia na barra do avental da senhora que trabalha na casa da minha avó, cozinheira exímia até hoje. Ela me ensinou a fazer bolos. E me ensinou receitas. Ela fazia um bolo em forma de tabuleiro de xadrez, recheado com doce de leite, que era muito bom. Eu o fiz algumas vezes. Dá muito trabalho, é quase uma obra de arte. Nada que se possa fazer às pressas. Nada que seja, “coloca tudo no liquidificador”. Em algumas épocas da minha vida, fazer bolo foi na base do “tudo no liquidificador”. De uns tempos para cá, estou retornando à boa batedeira, pelo menos. 

Pensei em fazer um bolo sem glúten, sem lactose, nessa nova onda. Um bolo moderno, politicamente correto, vegano. Ah, mas querem saber, ninguém que iria comê-lo é alérgico ou doente para deixar de comer glúten e lactose. Quis fazer um bolo saboroso. Farinha sem glúten não parece farinha. Leite de vaca sem lactose só pode ser um “alien” inventado pela indústria. Melhor o bom leite com lactose.  Fiz o bolo com lactose e glúten mesmo. Quanto ao açucar, usei demerara. Não gosto de açucar refinado, o demerara substitui bem nos bolos e é mais saudável. Não fugi do leite condensado. O recheio foi com ele misturado com leite em pó, para o condensado ficar durinho. Fiz um bolo com cacau, que ficou escuro em contraste com o recheio claro. Separei as gemas e as claras. Bati bem as claras. Juntei ao final. Nao bati o fermento, nem o trigo, os misturei delicadamente. Abri o forno enquanto o bolo assava. Não solou. Misturei tradição e modernidade. Intuição e técnica. O que aprendi com o tempo e truques que me foram ensinados na infância. Sem isso de “tudo no liquidificador”. 

Com uma fina linha, cortei o bolo ao meio. Coloquei o recheio claro. Cobri com metade do bolo cortado. Enfeitei com biscoito nada politicamente correto. O cheiro ganhou o quarteirão da rua onde moro. Há certas coisas que dão muita alegria fazer. 

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