segunda-feira, 11 de março de 2013

Receios pretéritos

Para Miltinho, um poeta que não é virtual

 

Teve receio que no teto
passasse a buscar as ranhuras
sabia que as orquídeas lhe eram
                       queridas

         atadas em árvores
         por fios lilases.

Receio de mergulhar num
mar de bytes e perder - da
vida - azuis, dourados, vermelhos
                            terra
a misteriosa textura da noite.

Receio de pousar em cima do muro
corvo a bicar faltas alheias
inebriado do que rescende
                    alheio.

E se transcorresse algo
de muito importante fora da
       tela de 14 polegadas
de onde se refletia, sem ser
percebido, o próprio tédio.


Ana Lúcia Franco, 2013