segunda-feira, 8 de abril de 2013

Elefante

                                                    
Há alguns anos, eu li o livro “Vermelho Amargo”, do Bartolomeu Campos de Queirós, e percebi que não se tratava de um mero livro. Sua leitura era mais que um movimento intelectual. As palavras encantavam. Era um grande poema em prosa. Um quase épico biográfico.

O autor era especializado em literatura infantojuvenil e o livro Elefante foi sua última obra. Os originais deste livro foram entregues à editora Cosac Naify dias antes de sua morte, no começo do ano passado. Eu estava a procura de livros infantojuvenis que me inspirassem a composição de “poemas e poeminhas”, quando soube do recente lançamento deste livro.

Bartolomeu foi educador e humanista, com uma notável obra literária para crianças e adolescentes, e eu quis saber quais as suas impressões num momento tão delicado da existência.

O livro tem o formato de livro infantojuvenil, entremeado com ótimas gravuras de Bruno 9Li. Mas o conteúdo foge a qualquer estereótipo e descortina uma outra dimensão, a dos sonhos. Elefante é um sonho que penetra pelos vãos de uma existência que se esvai: “Ele pisava sobre as folhas e uma música metálica fatiava o silêncio, brotando sob seus pés.”.

Escolhi algumas passagens do livro para compartilhar:


“No sonho, a liberdade voa com mais asas”.



“Ele parecia fatigado e se aconchegou entre as linhas que escreviam meu destino, na palma da minha mão. Linhas que só as ciganas diziam ler. Um medo morno suspirou em mim: medo do elefante decifrar minhas linhas, desfazer meus novelos, desamarrar meus nós. Eu sempre me escondo por trás de minhas redes”.



“E quanto mais eu amava, mais no sonho eu adentrava. E na medida em que – com amor – contemplava meu elefantinho, mais ele se transformava. Descobri que o amor tem suas invenções”.



“O amor tem seus mudos sofrimentos”.



Um homem que em sua última respiração literária entrega-se ao sonho e descobre mais ainda o amor. Era Bartolomeu Campos de Queirós.


Nenhum comentário: