terça-feira, 23 de abril de 2013

Risíveis simulacros e a polêmica Gerald Thomas

Entro na única rede social de que participo, o facebook, meteóricamente. Excluo o perfil, passo meses sem acessar o site, volto e encontro, entre outras, as mesmas notícias de meses atrás. Bem curtidas, o que pode não ser indício de qualidade ou popularidade, mas de vício na rede social, o que não é tema para agora.

Por entrar pouco, preciso de algum tempo para me inteirar do simulacro que rola por ali. Tenho a mania de acreditar no que me dizem. Não creio, por exemplo, que há uma mídia conspirando contra mim. Algumas vezes checo e constato a falácia informativa, plantada não só pela tal mídia. Conspirados e conspiradores parecem faces da mesma moeda. Fico mais esperta, não a ponto de perder a boa-fé. Ainda acredito que estão ali, no facebook, antes de tudo, seres humanos interagindo, extravasando, se comunicando. E espalhando “memes” também. Cultivando destrutivamente o ócio, também. Enfim. Estar ali é ótimo para exercitar o discernimento.

Curiosidade que fiquei sabendo outro dia no facebook é que a palavra “babaca” teria sido criada para designar “bacana” e acabou, pelo uso popular, se transformando no oposto. Como um elástico firmado num extremo e que acaba saltando para o oposto. 

A raiz etimológica de “bacana” pode divergir do seu sentido ordinário. Bacana pode ter uma etimologia dionisíaca. Palavra que pelo uso acabou se infiltrando positivamente no léxico popular. No dicionário, consta o sentido que lhe é atribuído popularmente, sem grandes digressões etimológicas. Tanto bacana quanto babaca, da forma como usadas popularmente, são gírias. E o sentido de babaca pode, remotamente, ter a ver com bacana. Babaca não é necessariamente uma palavra depreciativa. Mas eu não encontrei, mesmo, qualquer referência de que a palavra babaca tenha sido criada para designar bacana. E minha fonte de pesquisa não é só google. Coleciono dicionários e neles não há qualquer referência disso. Alguém criou um absurdo no facebook, passou adiante, com muita cara de pau, para um bando de “curtidores” sem o mínimo senso crítico. Os que criam as mentiras são espertos. Fico com os tolinhos, os de boa-fé. Se bem que não há tanta diferença entre ambos.

Jardim de simulacros. Passo tempos sem aparecer. Para não me desacostumar da realidade. A rede tem um lado bom, também. Notícias mil.

Por falar em babaquice, por meio do facebook, fiquei sabendo de uma grande notícia: a polêmica entre a Nicole Bahls e o Gerald Thomas. Ela foi com um vestido muito curto ao lançamento de um livro dele, que de repente se infiltrou pelas fendas da Nicole. Metendo a mão, sem cerimônia. A justificativa foi: se ela não quisesse ser tratada como um objeto, não desse motivo. Algo assim. Para o dramaturgo Thomas, civilidade depende do vestuário. Não se vestiu bem, não há civilidade. Não há respeito. Coisa mais medieval, mais vitoriana, mais séculos passados. E tão atual. As notícias também se repetem fora do facebook. Só mudam de invólucro.

Ele não foi agressivo, Nicole diria depois. Mas não faz meu tipo, ela também diria. Nem o meu, Nicole. Tenho só uma observação a fazer: querida Nicole, agressividade pode se mascarar de tantos modos. Agressividade não é só desferir bofetes. É invadir fendas, também. Até parece que você queria, mesmo, receber uma apalpadela do Gerald Thomas. Um homem cuja lógica é: mulher de vestido curto, apalpo mesmo, não quero nem saber. Um homem com uma lógica vitoriana dessas não é atraente. Tanto que precisa obter na força ou no constrangimento algo que poderia obter se fosse atraente. Demonstrou a mesma verve de um estuprador. Pode ser o papa da dramaturgia ou derramar a intelectualice que for. O mundo não quer tanto genialidade, quer também amor, respeito, compreensão, humanidade. Em relação às minorias, mulheres também.

Talvez Nicole tenha se assustado. Podia esperar tudo, menos as formiguinhas das mãos do Gerald Thomas pelos buracos do seu vestidinho. Ficou sem ação. Acontece. 

Moral da história: um foco de atenção extra sobre o evento, o lançamento do livro dele. Não é de admirar que tudo tenha sido planejado. Porque Nicole foi convidada para o evento? Se Nicole, bem, abusa dos decotes diante dos quais Gerald não se controla? Parece armação. Parece simulacro.

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