segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Terra de dragões

Se algum dia alguém tiver que passar pela dracolândia, é provável que por um breve período se torne um deles. Mesmo que haja uma desestrutura, não se mascare, é pior. Dragões são mascarados e por isso não acessam sua condição intrínseca. Com sérios entraves de percepção, não se tocam. Pecados são sempre alheios. A vaidade, a falta de humildade, o orgulho, sempre alheios. Quem mais se prestaria a demonizar os outros que não os próprios demônios, os próprios dragões? Não se incomode, siga adiante. Ao sair, se tiver essa sorte, respire bem fundo. Sinta-se feliz! Sentir-se feliz é o primeiro indício de ter saído do fractal dracolândia. Dragões não são felizes. Nesta terra psíquica, dentre outras coisas, mulheres largam tudo por amor, como se o amor estivesse a dois mil quilômetros de distância. Como se o amor fosse um objeto.

Sério, andei inquirindo: “houve em minha família alguma mulher que largou tudo por amor?”. “Sob nenhuma hipótese”. "Nem mesmo tia Lurdinha largou tudo por amor?" “Nem mesmo”.

De onde a conexão com uma realidade draconal nada a ver com a minha.


O que busca uma mulher num ato tresloucado abandonar filho, estrutura, família, terra, tudo. Por amor!

Pode ser que busque a feminilidade perdida. A feminilidade nunca encontrada ou vivenciada. Mas, se nem isso é possível de se buscar lá fora. Isso está em nós! Não é o companheiro nem mesmo os filhos. Não é o ato de cuidar da casa, de fazer comidinha. Nada disso é atestado de feminilidade.

Porque mesmo se largou tudo por amor? Seria o outro altamente irresistível, capaz de desencadear um processo romântico estapafúrdio nesse nível? Não acredito. As respostas são subjetivas. Pode assustar voltar-se a si. Hora ou outra, inevitável, talvez. Pode-se ver o que não se deseja. Perceber o que não se quer. Mas, e daí?!

A feminilidade, tal a masculinidade, é um estado pessoal, subjetivo, íntimo. É da plena conexão com este estado que se atrai boas parcerias. Pois nem toda parceria vale a pena, convenhamos. Uma parceira que reforce a integridade, e não que nos torne tolas, fúteis, suscetíveis e obcecadas, pois isso nunca foi feminilidade, só sob uma ótica machista draconesca. Sem cair na armadilha do “para ser amada, tenho que ser o que não sou”. Faça-me o favor.

Se de tudo ainda resultasse a felicidade. Felicidade? Estamos na
dracoland, favor não esquecer.

E para as que largam tudo por amor, não se esqueçam: não basta ser amada, é preciso ser bem amada para que tudo valha a pena. Sem se preocupar com as outras. Sem se preocupar, não é? Sem paixonites impertinentes. Seria uma paixonite esta obsessão cada vez mais evidente?

Olha, a outra nunca gostou de brincar com carrinhos, não se excita com pin-ups, nunca teve dúvidas de sua feminilidade, isso posso adiantar. Nunca largaria tudo por amor. As diferenças são abissais,
my darling. Tipo, nada a ver. Descola, desprende, seja feliz, investigue a causa de tanta nóia! Desde se prestar a vasculhar um número de celular até outras baixarias.

Ah, uma vida toda de autoajuda, de mantras, de sinto muito me perdoe obrigada, poderia dar um resultado melhorzinho, não achas? Vamos colocar na prática toda teoria, vamos tentar, não dói. Não basta apertar o play e repetir “n” vezes o que os outros disseram. Coerência não dói nem um pouquinho, vamos tentar?

Enquanto há vida há tempo. Enquanto há tempo, as escolhas podem ser feitas. Depois não sei mais, viu?! Desencana. É. Toca adiante. Tão bom viver a própria vida, e para que ela valha a pena, depende de nós e de boas parcerias. Boas, tá bem?!

Don't worry, be happy!


Um comentário:

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Um texto escrito de mulher pra mulher, mas que faz todo sentido também para os homens. Meu abraço e minha admiração.